Submeto-me ao silêncio, companhia aprazível que julgo conhecer a pente fino, enquanto drago meu caprichoso vício e acaricio meu copo, frio como a noite, que de meu só contém o efervescente liquido em que afogo, convictamente, os dissabores da vida. Dignifico, o quanto basta, o momento e repudio qualquer adulteração ao mesmo sem que seja assegurado o silêncio como base primordial, os vícios como base existencial e os dissabores como acessórios naturais de quem vive, como eu, com o coração melindrado e a alma displicente. Tento imortalizar, sempre que possível, estes ténues momentos de submissão consentida, sem dar valor à prevaricação que é implícita, em que elaboro pensamentos minuciosos onde não consta radicalismo algum, racionalismo queria eu dizer. Enquanto elevo o pensamento diminuo o peso que transporto nas duas mãos pois "não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe"... Pelo menos o mal não é imortal, para contrabalançar com a limitação do bem, mas qual será o valor a pagar por essa extinção do mal, para quando está deliberada a mesma? Não sei, talvez o mal que me atormenta morrerá comigo e será a submissão mais injusta que alguma vez tive visto que todas as outras submissões que aglomerei ao longo da vida, e ainda hei de aglomerar, foram todas consentidas por mais dolorosas que fossem, por consentimento do álcool que me extasiava, por consentimento do coração que fraquejava ou até mesmo por consentimento da esperança, que simplesmente me levava. No fim da noite recolho-me com o pensamento delirado, perturbado, sem temer tudo o que me aguarda no final de caminho que percorro e de cada esquina que dobro, adormeço convicto no amanhã. Se ao acordar não pensar que o amanhã é dia, o silêncio desta noite será, porventura, o último em que me refugio e ai sim deixarei de tentar imortalizar o momento levarei comigo todo esse tormento.
De facto um blog que quando posso acompanho. Tens excelentes textos e vê-se que manejas bem a arte de escrever e de imaginar. Espero que consigas algo de bom no futuro. Muitos parabéns e que continues no bom caminho.
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