Haverá algum vicio tão tenebroso
quando uma paixão convicta ou uma sedução explícita? Deverá haver se no
desvario do olhar lembrarmos de algo mais arrojado, que por ser pecado
permanecemos calados, ou se na tentativa de assumirmos as consequências somos
inconsequentes e de certa forma perdermos a certeza daquilo a que nos
predispomos, de uma forma paralela àquilo que somos. Certamente haverá algo
mais tenebroso mas em termos de prazer só isso nos poderá satisfazer, uma
paixão ou uma sedução. Uma paixão daquelas que de tanto ardume, não de uso mas
de costume, resfriamos o fervor com os choros avulsos e que atenuamos e
confirmamos a nossa euforia em versos proliferados, nascidos do acaso, na ânsia
que alguém nos ouça ou nos veja e que nos entenda. Uma sedução daquelas sem escrúpulos
em que derrapamos no silêncio, bem astutos, levados por toques ocultos, que de
tão precipitados nos excitam e nos incitam, somos genuinamente obrigados a nos
descompormos e arrecadamos suores, sussurros e apetites carnais. São vícios e têm
de ser tratados como tais, consumindo-os, porque se não somos viciados somos
melindrosos pois a paixão e a sedução mais não são que vícios por inflamar aos
quais estamos entregues e que por mais que não queiramos é algo a que não
escapamos.
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