segunda-feira, 13 de julho de 2009

Carta


Meu amor;

Não imaginas o que é viver com a tua ausência e a todos os passos que dou e todos os gestos que faço, revejo-te. O luar deixou de ser o mesmo desde a noite que te foste, agora parece meio tímido e esconde-se por detrás das nuvens, tenho pena que assim seja pois era desejo meu oferecer-te a lua. Na agonia do meu choro deplorável ainda sinto minha face caída em teu ombro, nas horas vazias em que víamos o sol cair e as estrelas surgir num ápice. Nossos corpos já foram um só mas agora a distância é tanta que nem sinto teu odor fulminante que me deixava doseado nas tardes de inverno. Não aguento esta dor desmedida, que em tudo me enfraquece…

Para todo o sempre;

Luís Freitas

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Morte


É difícil sermos pessoas normais. O facto de a nossa sina já estar arbitrariamente atribuída deixa-nos com uma margem de manobra circunscrita, nossos olhos tumultuosos perante a enormidade da vida, nossa mente balbucia-se por ser incapaz de se mover e nossa boca une-se aos pulmões, sopro grande e grita! Peço desculpa pela frieza mas quando morrer quero que dancem como vos der mais jeito e peço desculpa novamente por não vos acompanhar na dança, quero que gozem a vida da maneira mais correcta e verdadeira, que é deixar-se ir. Não há mortes graciosas a não ser que a planeemos bem, mas mesmo assim nunca serão mortes perfeitas pois não estaremos presentes para inspeccionar. No dia da nossa morte descobrimos habilidades que nem sabíamos ter, amigos que nunca vimos e inimigos que atravessam a fronteira para beber um copo em nosso nome. Em uma frase cinge-se a morte: Podemos nos esconder da morte em todos os buracos mas é preciso ter cuidado que podemos já ficar num desses.