sábado, 30 de novembro de 2013

Levados pelo tempo, consagrados pelo mesmo.


           Debruçados suspiramos e conspiramos, afrontando quem nos rodeia com olhares mirabolantes e pensamentos exacerbados, idolatrando o tempo vindoiro na expectativa de que o mesmo será a oportunidade que necessitávamos para por em prática aquilo que até então haveríamos compilado. Deixamos para trás tantas oportunidades que identificamos como momentos não propícios à concretização de meditações que não estariam estagnadas, a que o tempo nos daria razão, assumindo que haverá uma circunstância exacta e que ai sim executaremos de forma natural aquilo a que nos propusemos e que fomos reunindo nas diligências que a vida nos foi fazendo.
        Alguns dirão que essas serão as desculpas que daremos ou que iremos interiorizar para não entrevirmos de uma forma célere ao rumo que a vida leva mas àquilo que nos compete a decisão será sempre nossa, assim como as consequências de todas essas decisões, para que não tenhamos de decepar-nos em mais desculpas e em vez de cairmos na dignidade de assumi-las transpô-las para terceiros que apenas são um complemento à nossa vida e não a essência da mesma.
           Contudo havemos de nos importar ou importunar terceiros quando assim acharmos necessário, assim como eles acharão em tempo próprio, para que as parcerias sejam um estímulo às nossas ambições e à dos outros, sem descurar as nossas metas e sem abdicarmos das mesmas. O medo irá nos fustigar, temendo as nossas concretizações, para que não sejamos aquilo que pretendemos mas sejamos aquilo que as circunstâncias da vida assim o quiserem e se assim for estaremos reservados ao incerto e o concreto será tão utópico que nem a contestação será possível, estaremos entregues àquilo que merecemos subtraindo tudo aquilo que queremos.
Mesmo assim que não nos rendamos e que vamos concretizando, será a forma de mostrar o nosso pulsar e de impedirmos a não concretização de aspirações maiores, na senda do sucesso apoteótico que há de surgir quando menos esperarmos, quando menos nos importamos e quando menos quisermos.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O resto não importa


De uma forma despropositada vamos crendo que o futuro saberá brindar o presente e enaltecer o passado, vamos crendo e nos oferecendo ao tempo que embravece e fraqueja ao mesmo tempo que o mesmo se escassa. Não sejamos fúteis ao ponto de acreditar que nos bastamos a nós mesmos e que a nossa força inata é o suficiente para que sejamos inteiramente fiéis à nossa vontade, porque o desgaste torna-se evidente a cada passo e aí no percalço nasce o esforço que nada mais é que o submergir de forças que desconhecemos, que não temos ou até mesmo forças que havemos de desmerecer ao passar do tempo. Sofremos um pouco, de pouco em pouco até à demasia, mas não podemos deixar de apreciar aquilo que é o custo da nossa ousadia, não podemos deixar de apreciar aquilo que nos é dado como sendo entendido o mais apropriado para coroar a nossa ignóbil devoção a tudo o resto que não nos importa. Nem sempre estamos dispostos a ser conquistadores desconhecidos ou desprovidos de um reconhecimento póstumo mas se esse for o único sacrifício que tenhamos de fazer para que em tudo o resto tenhamos o triunfo pretendido, merecido, então que assim seja, ninguém há de se importar com o resto.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

São vícios e têm de ser tratados como tais, consumindo-os.


Haverá algum vicio tão tenebroso quando uma paixão convicta ou uma sedução explícita? Deverá haver se no desvario do olhar lembrarmos de algo mais arrojado, que por ser pecado permanecemos calados, ou se na tentativa de assumirmos as consequências somos inconsequentes e de certa forma perdermos a certeza daquilo a que nos predispomos, de uma forma paralela àquilo que somos. Certamente haverá algo mais tenebroso mas em termos de prazer só isso nos poderá satisfazer, uma paixão ou uma sedução. Uma paixão daquelas que de tanto ardume, não de uso mas de costume, resfriamos o fervor com os choros avulsos e que atenuamos e confirmamos a nossa euforia em versos proliferados, nascidos do acaso, na ânsia que alguém nos ouça ou nos veja e que nos entenda. Uma sedução daquelas sem escrúpulos em que derrapamos no silêncio, bem astutos, levados por toques ocultos, que de tão precipitados nos excitam e nos incitam, somos genuinamente obrigados a nos descompormos e arrecadamos suores, sussurros e apetites carnais. São vícios e têm de ser tratados como tais, consumindo-os, porque se não somos viciados somos melindrosos pois a paixão e a sedução mais não são que vícios por inflamar aos quais estamos entregues e que por mais que não queiramos é algo a que não escapamos.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Determinantemente saciado


Não posso deixar de exaltar a chuva, seria desonesto da minha parte, que menosprezasse o desvario efervescente dessa carinhosa simpatia que a natureza nos presenteia, para que as noites sejam mais habilidosas e para que os dias sejam mais reconfortantes na hora de assumir a minha ociosidade perante o mundo.  O vento que se altiva e que me afronta torna-lhe reboliça e isso sacia o meu olhar deambulante que recusa sucumbir perante mais uma noite régia, por entender que a indiferença faz com que a mesma se esmoreça e aí não terei companhia contemplativa que me possa instigar a mirabolantes reflexões.  Tão pertinente que a mesma é pois parece conseguir decifrar as minhas carências, não tem como não a apreciar; desde a límpida gota ao mais grotesco esfrio, desde a solitária afronta até ao mais denso desafio, desde o início até ao fim… até ao rescaldo da mesma, o silêncio que a imortaliza. Descomponho-me e cada canto a que me encosto é uma distinta forma de a contemplar.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Não seria feliz, sem ti.



Não seria feliz sem ti,
Talvez nem saberia o que era a felicidade,
Nem saberia de mim,
Ou pelo menos de metade;

E no meio dos carinhos e abraços, perdemos-nos
Em beijos e sonhos fatais
E apercebemo-nos
Que amar nunca é demais;

Mas nos dias em que aparece a vontade
De consumir este sentimento,
Eis que nasce a saudade
E destrói o momento!

       

sábado, 16 de novembro de 2013

Denomino-me servo, perante irmãos.


Saudades, do recanto onde assentando os meus joelhos debruço-me perante uma fé tremenda, para saudar aquele de quem mais me aproximo a cada dia que passo, para dizimar os pecados que confesso e para restituir a serenidade que apruma os meus pensamentos, lembranças subsistentes de quem acredita na verticalidade do ser que venera, na sapiência dos escritos que perpetuam e no vigor dos cânticos que ecoam. Entornando o olhar sobre as mãos dadas e atadas, a uma rendição suprema, sustenho a ousadia de me declarar e consinto que me extraviem com palavras recatadas que aglomeradas possuem algo que pretendo encontrar, um ensinamento mais dócil que as vivências que tremelicam o meu ser, para que o tempo que me concedem seja mais fértil e menos nefasto, para que não viva em vão. Antevendo percalços deixo-me ficar mais um pouco, numa devoção astuta que penso não resultar, sem me queixar do tempo que emprego e sabendo que cá voltarei cambaleando, jorrando lágrimas e desaforos, versando pensamentos ateus e temendo que se cá não vier faleça. Sejamos merecedores do silêncio que ostentamos, sejamos compreensores do mesmo para que a fé seja um sustento e nunca um lamento das nossas ações que com espaço e tempo revelam-se imponderadas, se não formos ponderados e fieis assíduos o silêncio será o mote para o fim.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Sinto-me efémore


Nunca me senti efémero, não tanto quanto hoje, talvez por transportar uma certa prepotência em ascensão que ridicularizava qualquer sentido que a vida pudesse conter ou transparecer, por acreditar que os meus passos eram tão marcantes quanto o batimento do meu coração e tão cravados quanto as conquistas do mesmo. Contudo aprendi que a nossa sobeja certeza é tão certa quanto os caminhos que percorremos, aqueles que não entendemos, afrontando assim as nossas reflexões dolorosas que não foram tão produtivas quanto esperávamos e foram tão vazias quanto o teor das garrafas, que evaporou, e quanto a labareda no tabaco, que sumiu. Nunca me senti efémero, não tanto quanto hoje, mesmo sabendo que tenho razão naqueles que entendo como pontos de vista e outros poderão entender como pontos de partida para uma loucura plena e consentida. Agora que sinto-me efémero, esperando que não o sinta mais do que hoje, posso dizer que não gosto…. “e até aposto que não gosto de ninguém”.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Há momentos e momentos...


Existe momentos na vida em que os dias e as noites não passam, apenas desfilam, deixam um rasto cravado e amargurado nos suspiros que damos e aproveitamos para suster o fôlego e dar um mergulho no escuro. Confrontamos o tempo com o tédio e perdemos, perdemos por culpa própria e ao olharmos o espelho pressentimos a nossa indolência de uma forma tão cruel que bastarão segundos apenas para nos fartarmos do que vemos. Existem estes momentos e têm de ser vividos, durante o dia havemos de ludibriar o sol, à noite saberemos quantas estrelas nos cercam e no final de tudo nem lembraremos mais esse tempo vagaroso, porque não nos convém.

Sonhei com o incerto e acordei deserto


Hoje sonhei contigo, há quanto tempo não te via, há quanto tempo não pressentia o quão gostava de ti, o quanto gostávamos um do outro. Um sonho tão fugaz quanto aqueles que aspirávamos, tão real como os momentos em que nos desdobrávamos por um simples beijo ou por um complexo carinho, com uma serenidade eloquente que nos deixava petrificados. Não sei de onde surgiu esta minha necessidade de te reencontrar em meus sonhos, não sei mas gostei de te reencontrar, não sabendo também se irias gostar mas sabendo que foi mais uma das noites em que perdi a descompostura e adorei ter cometido mais esta, pequena, loucura. Temendo o excesso de remorsos despertei, temendo cair em tentação ponderei continuar dormindo, ponderei continuar sonhando com algo que esqueci entretanto e rendi-me ao nascer do sol para que a manhã, fria, fizesse-me esquecer aquilo que foi nosso um dia, muito antes de me ter apercebido das injustiças da vida. Quero que saibas que celebrei a tua vinda em lágrimas e que o meu coração escondeu-se, inquietado, para que o choro fosse o único modo de mostrar-te que estou vivo e que os sentimentos nunca morreram apesar de nem sempre terem estado todos eles do meu lado. Sonhei com a incerteza, acordei como sempre no deserto.