terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Um passado desigual ao presente


             Recordo um passado tão desigual para com o presente, recordo-o por ser tão omnipresente que seria uma ofensa menosprezá-lo. Sinto-me ridicularizado com as lembranças, com essas meras esperanças de felicidade, que um dia nutri e em muitos outros sustentei, convicto de aquilo a que hoje chamo de lembranças seriam um modo infindável de estar na vida. 
         Queria tanto voltar a ser este ser mas em edificação, não para corrigir os erros assumidos ou enveredar por outros caminhos não percorridos mas para degustar novamente aquele prazer que sustentava outrora uma vontade inabalável de aprender a conquistar e de conquistar aprendendo esta vida que agora vou tendo. Deslumbrei-me perante o futuro que ia surgindo, perdido no presente que ia sumindo e desconsiderando o passado, fi-lo de uma forma tão incorrecta e tão injusta que aquilo que hoje procuro é aquilo que não mais irei ter, uma espécie rara de prazer que me sustentava por inteiro.
         Deito o meu olhar por cima do ombro a ver se ainda encontro qualquer escombro que possa manobrar e atempadamente sei que esse meu gesto é em vão, atempadamente soube que não teria privilégio algum em puder regredir no tempo e que tudo teria de ser consagrado à medida que ia surgindo e nos instantes posteriores em que tudo ia sumindo. Recordo um passado que é meu e ironicamente só me pertence em recordação; não que quisesse vendê-lo ou empresta-lo, porque no que toca às minhas lembranças tendo a ser egoísta e possessivo, mas porque queria reviver algo que entendo como sendo o único modo de vida que me deviam ter determinado e só isso poderia fazer com que fosse efectivamente feliz.

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