Recordo um passado tão desigual
para com o presente, recordo-o por ser tão omnipresente que seria uma ofensa
menosprezá-lo. Sinto-me ridicularizado com as lembranças, com essas meras
esperanças de felicidade, que um dia nutri e em muitos outros sustentei,
convicto de aquilo a que hoje chamo de lembranças seriam um modo infindável de
estar na vida.
Queria tanto voltar a ser este ser mas em edificação, não para
corrigir os erros assumidos ou enveredar por outros caminhos não percorridos
mas para degustar novamente aquele prazer que sustentava outrora uma vontade inabalável
de aprender a conquistar e de conquistar aprendendo esta vida que agora vou
tendo. Deslumbrei-me perante o futuro que ia surgindo, perdido no presente que
ia sumindo e desconsiderando o passado, fi-lo de uma forma tão incorrecta e tão
injusta que aquilo que hoje procuro é aquilo que não mais irei ter, uma espécie
rara de prazer que me sustentava por inteiro.
Deito o meu olhar por cima do
ombro a ver se ainda encontro qualquer escombro que possa manobrar e atempadamente
sei que esse meu gesto é em vão, atempadamente soube que não teria privilégio algum
em puder regredir no tempo e que tudo teria de ser consagrado à medida que ia
surgindo e nos instantes posteriores em que tudo ia sumindo. Recordo um passado
que é meu e ironicamente só me pertence em recordação; não que quisesse vendê-lo
ou empresta-lo, porque no que toca às minhas lembranças tendo a ser egoísta e possessivo,
mas porque queria reviver algo que entendo como sendo o único modo de vida que
me deviam ter determinado e só isso poderia fazer com que fosse efectivamente
feliz.
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